sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Eu, sua mãe.

Não quero falar só da falta, filho. Mas parece que foram as faltas que me trouxeram até aqui. Sou cheia de buracos, mas eles também me riem. Dão gargalhadas. Acontece que muita coisa mudou nos últimos sete, oito meses. Mais precisamente, no último ano inteiro. E não deu muito tempo de me encontrar de novo no meio de tudo. A notícia da sua vinda foi um susto delicioso. Depois o medo de perder você. Mas a barriga crescia e com ela expectativas, meu amor pelo seu pai, o amor dele por mim, minha confiança no futuro, nossos planos de finalmente construir uma família. E o medo de perder seu pai ia desfocando na minha cabeça. E ele se entregava, finalmente, como se a sua vinda também o tivesse confundido. Até que descansou no amor. Descansou mesmo. Desligou. Tudo fez sentido, todo o medo que eu sentia o tempo todo, todas as fugas de que ele fugia. Parecia final de filme, o desfecho de uma história fantástica. Por pouco não ouvi uma trilha apoteótica e os aplausos de pé. Teve platéia, sim. Mas era uma platéia atônita. Tanta gente deixando o seu choro pra depois pra me acudir. Era uma história, sim, filho. A história da minha vida. A história do seu pai. Era a sua história começando de um final tão belo quanto trágico. Tanta história em tão pouco tempo. Tanta falta pra tanto tempo pela frente. E um amor que doía de intenso, e que agora dói de ausência. Depois o amor por você. Tanto. Todo. Tonto. Que dói de bom e dói de falta. Dói porque tudo o que eu rio ao seu lado eu escondo de choro por outro lado. O quanto sou feliz por ter você é o quanto sou triste por ele não ter. Por isso embarquei numa viagem desenfreada. Excessos. De alegria, risos, mudanças, amigos, fotos, filmes, falas, compras, caderninhos, conclusões. Para não faltar, para o imprevisto ser previsto, para não perder a fé. E uma grande dificuldade de ficar quietinha em mim. De saber o que quero. É que eu ainda não assentei em mim de novo. Sou outra pessoa. Sou mãe. Continuo forte, sempre fui. Mas sou mãe. E o seu pai não está me vendo ser mãe. E eu não o estou vendo ser pai. Mas eu estou vendo você, filho. Vendo e vivendo você. E é maravilhoso e é indizível. Mas, como em meu amor pelo seu pai, continuo buscando o sentido em mim. Porque um dia você vai ganhar o mundo e a essa altura eu já quero ter me ganhado de novo.

3 comentários:

Anônimo disse...

É um vazio cheio......tão cheio que só pode transbordar em amor.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Fecho os olhos e me perco em uma oração pra vcs...