quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Para seu pai.

Você partiu no início de um novo ano.

Fazia muito pouco tempo que eu havia escrito uma lista cheia de desejos bons para o ano que ali começava. Lista modesta, de poucos itens – eu já tinha tudo o que queria.

Foi difícil aceitar que, nos tantos dias que viriam pela frente, ao invés de cuidar da lista, eu faria uma contagem regressiva, na torcida para que passasse logo a dor aguda. Cheguei a pensar que eu estava condenada a senti-la para sempre.

Dois meses depois, você se reinventou. Nasceu de novo, de mim. Nasceu outro. Outro que eu imaginava não conhecer.

Tive o privilégio de um ano em que nada era pequeno. A dor cantava um amor que não cabia em mim. Mas a vida latejava mais forte. E era grande demais a vida que eu guardava em mim. Renascemos em Francisco, eu e você. E ele ainda trouxe algo novo: um milagre só dele.

Faz quase três anos. Ele já é um menino. Tem a idade da falta. Mas veio para marcar uma presença nunca sonhada. Veio para me desabrochar.

Do Francisco eu me pari mil vezes. Nova, diferente, corajosa. Atirada, confiante, inteira. Aquela urgência que eu não compreendia era a minha urgência de ser.

A passagem de um segundo a outro nunca foi tão definitiva. O tempo agora vale mais. É absolutamente necessário que cada momento seja bom e simples. Sigo nesse exercício – que é de sabedoria, mais que de força. Da criança que chorava à toa, tornei-me a mulher que ri de si mesma. Sou uma mulher que sorri.

Os segundos seguem em fila, dando-nos a ilusão de que se repetem. Um a um, traçam seus propósitos e, rápidos, parecem não deixar rastros. A não ser alguns deles – e quem saberá quais são?

Num segundo, posso já não estar. Num segundo, tudo pode já não mais ser. Não é preciso apostar para estar sempre correndo o risco. Da intensidade. De me emocionar. De perder tudo. De ganhar muito. Os segundos vêm para falar da grandeza do que já temos.

Essa medida sutil do tempo é o futuro que não existe. A vida, que por ser grande é simples. Eterna e etérea. Sua ida me ensinou isso: cada batida do relógio é réveillon.

Eu achava que a minha dor nunca iria passar. Vieram outras. E outros desejos, sonhos imprevistos. Vieram desafios. Sem que você precisasse ir. Você permanece – e nunca, nunca é excludente.

Permanece o Francisco. Nosso milagre. Meu delicioso desafio. Vida que é falta e presença. Eu e você. Ele mesmo. Que já nasceu traçando história.

Ainda não conto histórias para ele. É ele quem me conta a minha. Ele é que me conta de você.

Não sei para onde escrevo, mas sei que você me lê. Pois lhe faço um pedido de ano novo, emprestado de uma pessoa amada por alguém que foi um presente em 2009: "Quando varrerem estrelas, pede para jogá-las sobre nosso telhado." (Yeda Prates Bernis)

De cá, eu e Francisco acendemos estrelinhas, na esperança de que cheguem até você. Amor que brilha.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Quero lhe dizer, filho.

Que de meus irmãos vi trechos de filmes, livros, discos, secos, molhados, laranjas, mecânicas, corpos que falam, escondida atrás da poltrona. Que de minhas irmãs assisti amores, sandálias de tiras, secadores barulhentos, espelhos indecisos, portões e eu te amos. De meus pais ouvi vozes sem brilho, silêncios velados, o som alto da TV e uma resignada ordem das coisas. (Mas no meio disso tudo eu vi amor.) Quero lhe dizer que de mim mesma vi muito e tanto, sem saber o que fazer com. Que de mim mesma escrevi tentando ler. Que do tempo entendi sermos feitos de medos iguais. Que dos fins, vi começos. Que, das férias, vi ilusões. De cortinas que se fechavam, vi se abrirem outras. Que os medos que tenho hoje não são outros dos que me viram crescer. Que os meus quarenta eu não sinto. Que você crescendo dentro de mim era eu junto. Que você crescendo ao meu lado é exemplo. Quero lhe dizer que não sei. Que ao ter você em meus braços, sinto como se soubesse. E esqueço os meus temores para ser o seu farol. Que ser o seu farol acende um caminho dentro de mim. Quero lhe dizer que ao tentar ensinar aprendo de novo – ou quem sabe é a primeira vez. Quero lhe dizer o que quero me dizer. Que você é um amor em mim. É afeto melhorado. Que depois de você a vida é brincadeira leve. Que o perigo de ter você é um risco doce. Que a sua respiração me faz voar para bem longe. Que a minha respiração ofegante coloca vírgulas em mim. Que atropelo as vírgulas em busca dos começos que moram depois dos pontos finais. Quero lhe dizer obrigada pelas vírgulas. Porque ao lhe ensinar sobre elas, vou aprender.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Daninho e Fanquico.

Dani, seu amiguinho da rua, é oito meses mais novo que você. Há mais de um ano vocês brincam juntos todos os dias. (E um ano é boa parte de suas vidas.) De manhã, quando um avista o outro na rua, os dois abrem sorrisos e saem gritando.

Outro dia cheguei em casa e encontrei em cima da mesa o convite para o aniversário de dois anos do Dani. No envelope havia escrito: Para meu primeiro e melhor amigo. Meu coração ficou trêmulo: é sua vida cada vez maior.

Dias depois, Preta, a babá do Dani, tocou a campainha em casa e você ainda não estava vestido pra ir passear. Sugeri que ela subisse com ele. Rápido, você voou pra janela, acenando pra que ele o visse: "Oi, Daninho! É o Canquico!"

Canquico é como ele chama você — se alguém perguntar o seu nome, você sempre responde "Fanquico" (ou "Sanquico"). Mas, como bom amigo mais velho, você se empenha em falar a língua dele.

Amizade começa assim.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Pista.

Você brincando de deslizar o carrinho nas minhas costas. E ainda tem gente que diz que a vida não tem poesia.

Manual do pai solteiro.


Meu amigo Aggeo criou um blog sensacional. Inteligente, texto gostoso e recheado de informações muito úteis. Vou consultar sempre. Afinal, sou pai também.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Gosto retrô.


"A mamãe vai ganhá dineiro pra comprá um fuquinha."

Escrevi imediatamente para o Papai Noel.
Vamos aguardar, filho.