terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Águas.



Foi em março que conheci esta versão da famosa música do Jobim – você estava prestes a nascer. Ouvi-la, hoje, é sentir no rosto de novo a brisa delicada de uma calma triste. Uma calma que me falava sobre o que não podia ser mudado e sobre as revoluções que me aguardavam por trás do que não podia ser mudado. Da delicadeza de um novo momento, mesmo que soasse violento em sua muda chegada.

As águas de março eram o fim do caminho e, da viagem seguinte, você era o começo.

Novos amores se anunciavam como flores, a começar pelo seu. Novos ares. Alguns desejados, outros não, revelando que a vida é quem faz as escolhas, por mais que nos dê outra ilusão. Ela nos brinca e em suas mãos somos criança. Entre uma brincadeira e outra, vem a morte para nos ensinar tanto a urgência como a calma resignação.

E é no jogo bobo e repetido que vai se revelando: o que passa, o que vem para ficar, o que é só caminho, o que é lugar para morar.

O tempo avança e luto para conquistar finalmente a calma. Penso que a conheço, mas ela me foge invisível. Em minha pressa de fazer sozinha, como se eternamente eu não vá ter com quem contar, me vejo a cada dia mais veloz, elétrica, acelerada. O que ontem sequer existia me invade e amanhece urgente, imprescindível, essencial.

Em minha ânsia de viver, esqueço de respirar. E o que é pior: sufoco também.

Você é tão parecido comigo, filho. A paciência que lhe peço é a paciência que não tenho. Por tantas vezes a vida me parece gritar pedindo que eu espere. Que eu espere, porque já vem. Mas não consigo.

Escrever é meu respiro, é quando tomo o ar para novos vôos – por mais rápido que voe, o avião parece flutuar entre as nuvens, essa ilusão de tempo e de espaço que nos dá a dica: a vida é tal e qual.

A vida é provocação. Se um dia me grita que é curta, manda em seguida a mensagem de que é preciso saber esperar. Avança e recua, oferece e retira, para nos medir, não a força, mas a capacidade de brincar.

E como você ao repetir mil vezes um mecanismo novo que acaba de descobrir, o tempo oferece meditação. É assim o seu jogo, com enigmas que mais rápido nos devoram se os tentamos engolir.

Não importa o quão irritante isso tudo me pareça. Nada vai mudar o fato de que não se toca o tempo com a mão. Não posso empurrá-lo ou puxá-lo, ele não vai nem vem, não pode que lhe sejam.

Admito, tenho pressa. Mas é pressa de chegar em casa e finalmente descansar. Pressa de ter calma. Pressa e sempre inimiga. É que nessa correria feia, por mais vezes me perco no caminho, sem conseguir chegar.

Em minha tentativa de lhe apresentar a serenidade, descubro que você é que veio me ensinar. O tempo, em seu ritmo criança, nos faz todo dia o mesmo convite a viver delicadas repetições e, assim, sorver a essência sutil do que não é feito.

Espero que eu, sempre tão rápida, não aprenda tarde demais.

42 comentários:

Ma disse...

Nossa, lindíssimo!!!!!!
Sabe, ia registrar no outro blog que acabei de ler o livro... de repente, desisti e entrei aqui. Que presente para mim! E todos(as)! Tentei fazer durar minha leitura, pq estava boa demais... e olha que lindo: cada post seu é mais tocante!
Vc nos brinda com seus escritos!
Grande beijo!
Marília

Anônimo disse...

Você me fala com a melancolia quase muda dos boêmios... E já que hoje, fala sobre calma, aliás... falamos sobre calma, porque me fiz parte do seu texto... te dito, que tu tens a calma dos passarinhos quando se mostra.

Andreza Schmitt disse...

Cris, (desculpa a intimidade) acabei de ler a poucas horas o livro, foram indescritíveis as sensações que tive com ele, meus parabéns. Assim como o comentário de cima eu também tentei fazer durar a leitura, na verdade começei a me sentir parte desta história, e ao mesmo tempo uma vontade louca de poder fazer a diferença. Agradeço pelas palavras, novamente peço desculpas pela intimidade, mas devo dizer, me senti como se fosse o Francisco lendo. Muito obrigado pela lição.

Beijo

Andreza Schmitt

Jane Abrita disse...

Tava com saudade desse blog com post 2009. Post lindissimo! Parabens sempre.

Anônimo disse...

É bom abrir o blog e ver novos textos postados... Faço isto toda vez que entro na internet. Já li o livro, e anseio por lê-la mais.

Lendo este texto compartilhei da sua pressa, e também da busca por calma. E talvez você concorde comigo que está pressa em busca a calma é a forma para evitar pensar no que a vida trás e retira.

Beijo grande.

Renata Carvalho Rocha Gómez disse...

cara... acho q as lagrimas mais doces e delicadas derramo ao ler suas palavras

move along disse...

comprei o livro ontem (06/01/08).
vou começar a ler logo menos.

o qu emais me chamou a atenção.?
a capa, em seguida o título.

eh tudo lindo aqui, tudo mesmo.
espéro nao chorar TANTO ao ler UHAUHUHAUHA


sorte, e felicidade pra você, e pro Francisco (:

A Borboleta disse...

Querida Cris, sinta meu abraço apertado agora beijos

Unknown disse...

Óptima reflexão, como sempre!

E para quando o livro em Portugal??

Beijos bons e bom Ano!

Janaína Cordeiro de Moura disse...

Cris,
faço parte da imensa legião de fãs anônimos, que entram - diariamente - no seu blog, a procura de mais um post... Sou encantada com a maneira como escreves... Encantada. De verdade. E também comprei teu livro (mesmo já tendo lido o blog inteirinho, postagem por postagem... rs... rs...). E também, como tantos outros, o li de "uma sentada só", num só fôlego, com a respiração presa e o coração palpitante...
Te desejo um ótimo ano junto ao filhote e a todos que te amam!!!
Mega beijo.

Bel disse...

.. que linda reflexão, Cris! Quase tão linda quanto és!
Há que se ter uma "paciência impaciente" como diaria Paulo Freire.
Um beijo,
Bel.

Maira Baracho disse...

'Pequena', vi uma entrevista (também pequena) contigo numa revista infanto-juvenil e me apaixonei.
por tu, pela tua história e pelo teu filhote.

acho massa, e mesmo sabendo que não receberei resposta, gostaria de registrar que sou fã agora, pelo que tu escreve e pela forma que tu o faz :)

muito foda, continue fazendo isso, seu filho ganha de presente essa história todo dia.

muito massa.

abraço e toda boa sorte. :*

Maira Baracho, Recife- PE

Unknown disse...

Fui uma das primeiras a te visitar aqui, Cris. Continuo acompanhando, mas a correria me impede de deixar registrada a minha admiração por você e seus textos. Este último post é pura poesia. Sensível e sincero como você. Parabéns. Feliz 2009! Um beijo, Marina (e Laura)

Erica Vittorazzi disse...

Olha a minha pretensão: me acho conectada a você, e ainda nem si porque. Talvez pelo amor à escrita, não sei. Escrevi algo no meu blog sobre uma música do Tom e vim aqui, e surpresa a minha, você também está tão bossa nova...rs.
E não é a primeira vez que venho aqui, e penso, 'Nossa isso foi para mim'.
Obrigada Cris,
Linda é você!

Anônimo disse...

Cris, você escreve muito bem. Acho que Francisco vai sentir muito orgulho dessa mãe!!!

Beijos

Luiz Calcagno disse...

Me lembrou a música do Lenine, que quando tudo pede um pouco mais de calma, a vida não para. Mas então, peremos nós, para não inverter nossas prioridades.

Alinne Silva disse...

Que belíssima versão. A cada dia aprendo um pouco mais sobre boa música com você. Obrigada.
Não posso deixar de lhe indicar Brooke Fraser. Ouça algo dos álbuns da carreira solo dela. Algo do 'Albertine' e 'What to do with daylight'.

Xero

Laura Reis disse...

Não me lembro como cheguei até aqui, sei que faz tempo e que já me dispercei pelos seus outros dois blogs. Porém, sempre deixo pra comentar outro dia, quem sabe..
Hoje, depois de guardar nos meus favoritos por um tempo bom, li seu depoimento, pra Reivista Criativa. Ainda não tinha conhecimento da sua história de forma tão completa [penso eu] e achei que esse era, então, o momento de vir dizer o quanto te admiro, por tudo. E como queria ser assim, quando crescer, cheia de vida, alegria, coisas boas para oferecer.
Gosto muito de você, daqui.
Um abraço apertado pra você e um beijinho em Francisco.
Que vocês sejam muito, muito felizes.

Regina disse...

Cris,

Mas você já aprendeu muito.
A missão de Guilherme foi muito bonita, ensinou não só a você. Quando você decide colocar, aqui, seus sentimentos você mostra para mim o quanto EU tenho a aprender. Imagine só, você com toda essa bagagem?
Este texto foi muito lindo. Fala de uma verdade, de como a vida é engraçada mesmo.
Quando estava grávida queria ver logo a minha Helena, queria que os 9 meses passassem rápidos como um relâmpago. Mas quando meu pai estava partindo, eu queria que o tempo demorasse a passar, cada dia era um presente, uma preciosidade.

Cris, acredite, a sua hora, o seu momento virá e isso eu tenho aprendido no espiritismo. Cada coisa no seu tempo.

Um beijo em seu coração.

Unknown disse...

Boa Tarde!
Estava olhando um blog que de vez enquanto visito (Rodaika e Fetter)e a Rodaika mencionou seus blogs e resolvi dar uma espiada.
Quando entrei no blog "Para Francisco" fui procurar os primeiros posts para saber como tudo começou, mas antes de terminar a sua primeira mensagem meus olhos encheram de lágrimas, então resolvi parar, afinal estou no trabalho. Pelo pouco que li vc escreve o amor como algo leve, que se materializa pelo querer e fazer bem ao outro.....o que, às vezes, com a convivência, vamos nos esquecendo, até que o amor se torna pesado e estranho.
Um abraço, Leila.

Cara de 30 disse...

De novo os sentimentos dançam em suas palavras e me levam a experimentar sensações que eu não esperava sentir durante a leitura de um blog. Sinceramente, teu blog foi o melhor achado de 2009! Uma "pena" que já tenha tido a idéia de lançar o livro pois trabalho em uma editora e, com certeza, fiquei com essa pontinha de inveja da concorrência.

Marjozinha disse...

Cris, eu precisava tanto disso hoje...desse texto impecável, delicado (como sempre), profundo, escrito como que pra mim, pro meu momento, de uma outra forma que a sua, certamente, mas exato para o que sinto nesse instante...e tantas vezes isso acontece! Você é alguém com muita luz, que Deus talvez tenha enviado à Terra para trazer alegria em doses generosas a corações sensíveis e mentes ansiosas por um pouco de afeto...Que Ele te abençoe, e ao Cisco, sempre. Beijo, Marjorie.

Anônimo disse...

Cris, esse foi um dos posts mais lindos do blog... bom saber que a dor tá se transformando...
beijo!
Babi

Letícia Nogueira disse...

Versão deliciosa de águas de março. Beijos.

Anônimo disse...

Cris, é isso! Me identifico muito mesmo com os seus textos. É um conforto, um encontro, mesmo sem te conhecer. Nos sentimos amparados, acompanhados neste 'mundão'. Tão distantes e tão próximos, tão diferentes e tão parecidos...Te desejo saúde, sorte, calma, paz! bj

LiLi disse...

Quando eu crescer, quero escrever que nem você.

Anna disse...

Desde que comecei aler o blog não mais parei até chegar ao ponto de abrir todos os dias pra ver se tem algum post novo....
é lindo seu blog, esse post tá maravilhoso como todos que já lí....
Saúde pra vc E bjo grande no Cisco!!!

Momentos... disse...

oi, eu achei o seu blog quase que por acaso e desde então sempre abro para saber de algum post novo, no final de semana comprei seu livro, comecei a ler, e estou lendo bem calmamente para durar bastante.
Te desejo tudo de bom, para vc e para o Francisco...

ana :: 1000 coisas para fazer antes de morrer disse...

Acabei de acabar. Ai, meu doeu, me curou, me fez muita coisa esta história linda. E ainda quero ler o livro...Bjs, viu?

Anônimo disse...

Li seu blog todo em apenas um dia. Me fascinou sua vontade de viver e a leveza como leva a vida. Me senti pequena diante de tamanha magnitude. Pequena, por não ter tido a mesma força diante de um fato parecido que me ocorreu, só faltou o fruto da união. Me identifiquei em muitos momentos com esse seu amor, e acredito que após ter conhecido sua linda história é que terei novamente força de vontade pra lutar e confiar firmemente num recomeço. OBRIGADA por me abrir os olhos e acalentar meu coração. Se me permiti irei linkar seu blog no meu, para que todos possam sentir o que eu senti ao conhecer sua história maravilhosa de vida.
Sucesso e força sempre, você tem um filho lindo, é linda na maneira que se expressa e merece toda a felicidade do mundo.

Unknown disse...

oi cris!
hoje enquanto andava pela rua e me lembrava deste seu texto, acabei lembrando de um poema do ricardo aleixo (poeta que conheci na época do vestibular! rsrsrs)
aí, resolvi te mandar o poema...
um beijo, minha querida.


Oiá

Repito o que
recita o vento:

que as coisas vêm
a seu tempo,

que elas sabem
qual tempo é o delas,

que esse tempo
quase nunca

é o dos viventes, mas
que, assim sendo,

força é render-se
à força delas

movendo-se, folha
ao vento, rasgacéus,

deusa ciosa das coisas
que lhe ofertem

e de cada corpo quando
dance na festa

em seu nome ao vento.
Veja-a: resplendente

aqui, já apontando
ali - epa, Oia-Ô!

(do livro A Roda do Mundo)

Casório Leandro & Carol disse...

Há muito que ouvi falar do seu blog, mas nunca tinha parado pra ler, porque sabia que tinha que ser desde o começo e de uma vez só. Então comprei seu livro de Natl pra minha mãe e, antes dela, descobri essa lindeza que são sua história e seus textos.
Eu, diferente de você, leio muito mais do que escrevo e uma vez li uma frase que vivo diendo, mas que se aplica a você mais do que a qualquer pessoa que eu "conheça". O livro contava a história de um casal que, por causa do amor, decidia se unir em vida, "até que a morte os unisse eternamente!" No seu caso, a morte e a vida (do Francisco) uniu você e Guilherme eternamente!
Eternamente abençoado é Francisco por ter pais tão amorosos!
Bjs
Carol

move along disse...

já comecei a ler. ontem.
e já estou quase acabando.

se soubesse,
se tivesse uma pequena noção do bem que tá me fazendo.
bem e mal ao mesmo tempo, mas aquele mal necessário, pra te fazer abrir os olhos, e fazer o coração entender, sabe.?


eu tava indo procurar um psicologo, devido aos ultimos acontecimentos.
mas meu psicologo, está sendo o livro.

obrigada,
de verdade, mesmo eu ainda nao sabendo o restante do livro, nem imaginando as emoções e os sentimentos que aparecerão até o fim.

felicidade pra voces!


Noélle.

Uma mãe em apuros! disse...

Ufa, é a única coisa que consigo expressar diante de tanto amor, tanta vida e tanta melancolia. Lindíssimo, mesmo sem ser convidada aparecerei sempre para me deliciar com suas palavras.
bjus

anaband disse...

Oi, Cris. Te leio tem tempos. Meses. Vários. E te li inteira. Desde o princípio, quando te descobri. E chorei contigo, e ri contigo, e ouvi contigo e senti, contigo. Como quase todo mundo que se manifesta por aqui.
Te conheci do outro avesso, no Hoje vou assim (aliás, através de mim uma das editoras do jornal onde trabalho te conheceu, a Inês, que falou contigo essa semana e vai te colocar no Pesponto do nosso Diário Popular de Pelotas...), mas confesso que é aqui que me encontro mais.
O Para Francisco, e a Cris, e o Cisco, e toda essa vida que transborda aqui, me encanta. E por isso, hoje, guardados os devidos créditos (e perdoadas as pausas demasiadas desse texto), vou te citar no meu blog (http://anaband.spaces.live.com/), tá? Porque te juro, eu poderia ter dito isso (a angústia do tempo e da pressa também me pertence), mas não tão lindo. Ainda bem que tem a Cris pra dizer. :)
Beijo grande, pequena. Assim mesmo, com uma intimidade a que me atrevo só porque tocas bem fundo na minha alma.

Glam Ateliê disse...

Lindo Cris.
Não pude deixar de colocar o link do teu blog no meu, espero que não hajam problemas.
Muita sorte na tua vida.
Fica com deus.
Grande beijo.
Ps: Como já havia comentando o nome do meu afilhadinho é Francisco também.

Anônimo disse...

Oi Cris,
Lindo o seu texto sempre passo por aqui para ler. E não vejo a hora de ir ao Brasil para comprar o seu livro =)
Amei a musica demais, mas não consegui achar onde tem esta versão com a Holly, em qual disco conseguistes?
Bjos,
Bárbara (barbaralopes@gmail.com)

Anônimo disse...

Sua história é muito bonita, triste, mas bonita. Mulher de fibra, poderosa, lutadora. Parabéns.

Deixo meu carinho.

DOIDINHA DA SILVA disse...

Seus posts são verdadeira terapia....
Fique com DEUS, e continue sua missão de encantar e sensibilizar as pessoas....

:: carol monti :: disse...

ai que lí um pedaço de mim nesse texto! =]

lindo demais!

bjos

HELENA LEÃO disse...

Neste texto moram muitas pérolas...quase sem palavras!!!! Lindo demais!

Gaby´s disse...

Cris Guerra... chorei...sorri...emocionei...
senti....lembrei...revivi..remontei...sonhei...sonhei de novo... prometi... respeirei fundo... todos ao redor no aeroporto de Florianópolis me olhavam..sorrir chorando, chorar sorrindo... Assim, 000.000001% do que sua história fez em mim...Logo eu, tão confusa, tão perdida, tão achada... tão metade, tão inteira... Essa sou eu Cristiana, uma brasileira que leu seu livro e se encontrou, o marido??? Está aqui vivo ao meu lado, sem saber reconhecer quem realmente sou!!! Tem momentos que acredito que ele não vê o que realmente sou... tem momentos q sou o que ele montou...Gratidão, essa é a palavra que tenho pra vc, grande Pequena... vc é a maior Pequena que já ouvi dizer. Vc sabe da vida Menina-mulher... Vc é um dos talentos de Deus... Francisco??? Este é um garoto de sorte, por tê-la tão inteira...
Um beijo... um beijo da Gabriela... um beijo grande, para a tão famosa Pequena!
gabbiandrade10@yahoo.com.br