quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O barco e a bicicleta.

Há poucos dias me veio à lembrança a cena em que eu e seu pai chegamos à Ilha Grande, em dezembro de 2006, num barco de pescadores. Para pisar no continente era preciso atravessar, passando por outro barco. E eu me lembro do seu pai preocupado em me ajudar com a barriga de seis meses. Como quem coloca um adesivo de "frágil" numa caixa delicada, ele berrava para que os homens que nos ofereciam as mãos soubessem que ali não havia apenas uma pessoa, mas duas delas.

Eu carregava em mim a fortuna do seu pai.

Penso no significado disso tudo. E só hoje percebo que naquele tempo eu me permiti ser frágil. Naquele único período, talvez em toda a vida, incluindo os momentos de pequena, em que os sofrimentos pareciam tão maiores.

A gravidez nos deixa fortes, sim, mas os meus primeiros sete meses foram aqueles em que, curiosamente, eu pude me entregar ao colo do seu pai sem culpa, numa espécie de férias do remo.

Mas veio a tempestade, o barco quase virou e eu voltei a remar, filho. E mesmo que o sol de novo brilhe e o mar pareça calmo, confesso que em alguns momentos eu quero perguntar se falta muito – mas não tenho para quem fazer a pergunta. Aí olho pra você, meu companheirinho de viagem, e esqueço todos os perigos. Simplesmente estico o corpo no barco e me entrego ao sol batendo no rosto, sem pressa de chegar.

Acho que é da gente essa vontade de ter um porto, um porto pra descansar. Sei que sou capaz de continuar nadando por muito tempo e acho que já me acostumei com isso. Mas saber que existe um porto ameniza a viagem.

Como quando a gente é criança e pela primeira vez vai se equilibrar na bicicleta sem as rodinhas de trás. Um dia eu vou fazer com você o que fizeram comigo, e isso vai ser muito amoroso: vou tirar as rodinhas de trás sem que você perceba. Quando você menos esperar, estará equilibrado na bicicleta, sozinho, sem notar que nunca precisou de fato das rodinhas de trás. Elas estavam ali apenas para que você soubesse, apenas para que você fizesse da serenidade um ponto de partida.

Melhor seguir em frente sem pensar na ausência das rodinhas. Melhor não pensar nisso nunca.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Absoluta.

Calhou que para mim não veio coisa fácil. Desde sempre foi assim. Uma sensação de estar só, um sentimento de não ser. Até entender que eu estava mesmo era em minha boa companhia. Mas ela se ausenta, vez por outra. E assim se seguiu a vida: a me mostrar que eu não iria pela boa e velha estrada. Eu pegaria os atalhos. Às vezes me pego querendo ser como, querendo ser que nem. Mas quando chego perto, descubro um todo mundo tão igual. No desejo de ser e não ser, de ir e não ir, na vontade de ser livre. No não saber o que é ser livre. Não saber o que é – um não saber. Tem hora que eu penso ter medo do que não sei. Depois eu me lembro: o que me dá medo mesmo é ter certeza. Que a minha sede é de vida e eu nasci agora há pouco.

Da Glauciana para você.

E por falar no livro, aqui você pode ganhar um. Além de escrever carinhosamente sobre o para Francisco, ela vai sortear um exemplar para os leitores do seu blog. Tem cada gente com gesto bonito nessa vida, que nem sei.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Onde comprar o livro?


Muita gente pergunta onde é possível comprar o livro "para Francisco". Deixo aqui as dicas de onde encontrá-lo com certeza: nas livrarias virtuais Saraiva, Fnac, Submarino, Cultura, Travessa e Laselva. Se você não compra pela internet, recomendo as livrarias físicas das mesmas redes: Saraiva, Fnac, Cultura e Laselva (isso significa que é fácil comprar o seu livro em vários aeroportos do Brasil). A livraria Siciliano também tem o livro.

Se você leu o "para Francisco" e gostou, ajude a divulgar o livro e os lugares onde é possível comprá-lo. E se a sua livraria predileta não tem o livro, pergunte se é possível que eles peçam o livro na editora (ARX/Saraiva) para você. Dessa forma você nos ajuda a ver o livro melhor distribuído e mais acessível. Obrigada.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Asas.

Agora mesmo, dentro de casa, topei com uma pequena lagartixa. Foi um custo eu conseguir que você a notasse, pois ela fugia, arisca. Tivemos que entrar e sair do quarto algumas vezes enquanto ela brincava de esconde-esconde junto à dobradiça da porta. Quando você finalmente a viu, a pequenina saiu deslizando por debaixo da porta. "Voou", foi o que você disse. Achei bonito o seu ponto de vista.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Vizinha.

De umas semanas para cá, uma ou outra barata tem aparecido morta na garagem do nosso prédio. Acredito que o criminoso seja uma dedetização encomendada pelo síndico. É o seu primeiro contato com esses seres e, confesso: me alegro que já estejam sem vida. Talvez a sua paixão aumente quando vir alguma em movimento. Ou não. De qualquer forma, para você, "a barata" é uma criatura muito especial, já que é a novidade do momento. Mal a porta do elevador se abre e você já está à sua procura: "Bauata, bauata!". Confesso que chego a torcer para haver alguma delas. É como eu dizia para o seu pai, parafraseando o Arnaldo Antunes: o seu olhar melhora o meu. Filho querido.