Estive em Paris - e somente em Paris - por nove dias em março de 2004. Fui com meu primeiro marido e talvez seja esse um dos motivos pelos quais quero voltar.
Imagine, filho, discutir em frente à antiga ópera da cidade por causa de uma foto digital que ficou sem foco e descer a Avenue de L'Opera aos prantos. Imagine não poder comer num bom restaurante nem por uma noite, em plena Paris, para economizar. Imagine ficar com sede porque a Coca-cola custa 4 euros.
Ganhei a passagem num prêmio de publicidade. Era uma última tentativa de salvar o casamento, eu esperava voltar grávida e, graças a Deus, isso não aconteceu. Hoje tenho você (descobri há pouco que Francisco significa "vindo da França), fruto de outro amor e de outras circunstâncias.
De qualquer forma, a viagem foi incrível - não há como não gostar de Paris. Um lugar que mistura o novo e o velho com perfeição. Homens e mulheres bonitos, roupas impecáveis, cortes de cabelos idem. Museus recheados de obras que a gente só conhecia nos livros e outras absolutamente fantásticas que nunca poderíamos conhecer sem ir até lá. Um ou dois cafés em cada esquina, muitas livrarias. Parar e ler os jornais ou um livro, brincar com o seu cachorro ou apenas ficar observando as ruas lindas, gente indo e vindo, a arquitetura primorosa, os estímulos visuais no meio dos prédios antigos amarelo-acinzentados. As pessoas em Paris realmente param para viver.
Eu me lembro de uma mulher impecavelmente vestida, parada no semáforo em sua bicicleta e usando um celular ultramoderno. Isso é Paris. Um lugar com um metrô antigo e eficiente, mas perfeito para andar a pé. Essa parte o ex-marido adorou, já que é de graça.
Ficamos hospedados em Saint Germain des Prés, bairro intelectual e charmoso, ao lado do Quartier Latin. O hotelzinho, com um quarto pequeno, mas delicioso e quentinho para aquele fim de inverno, fica numa ruazinha chamada Saint Benoit, exatamente entre os dois cafés mais tradicionais da cidade: o Café de Flore e o Les Deux Magots. Ali, Sartre, Simone de Beauvoir e seus amigos se encontravam para fumar seus cigarros, folhear seus livros, anotar nos seus moleskinis e falar de arte, filosofia, psicanálise, literatura. Eu pensei muito em psicanálise ao perceber que chegaria ao fim da viagem sem experimentar uma rápida sentada para um café num desses dois lugares. Mais uma vez, o ex-marido me desencorajou por causa do preço.
Tantas pessoas me paravam na rua para pedir informações, com o olhar confiante de que eu as teria. E eu me sentia uma autêntica parisiense. Acho que tenho mesmo alguma coisa antiga com essa cidade. Mas apesar de me sentir parte da cidade, não pude sentir todo o seu gosto.
Tenho vontade de voltar à Place des Vosges, revisitar a casa de Victor Hugo, rever seus desenhos lindos para o Corcunda de Notre Dame. Faltou ver a Monalisa no Louvre - depois de um passeio obrigatório por toda a parte do Egito, acabamos não tendo tempo de ver a Monalisa. Mas, quem é a Monalisa diante de tantas múmias e sarcófagos importantíssimos, não?
Faltou um chocolate quente na Rue de Rivoli. Eu também compraria sapatos por lá. Tomaria mais vinhos, sairia pra jantar. Talvez não visitasse nenhum ponto turístico e experimentasse a vida de um típico parisiense – é assim que gosto mais de viajar.
Passear pela Rue de Mouffetard, a mais antiga da cidade, que faz qualquer manhã cinzenta ficar azul. E lá comprar frutas, flores, um vinho bordeaux por 4 euros. Ir ao Jardin des Plantes só porque o lugar é bonito, sem nenhum interesse no museu de história natural que ali está.
Deixar a câmera fotográfica em casa. Namorar na Point Neuf, olhando para o Sena. Tomar sorvete de chocolate na Ile de Saint Louis. Passear pela Place Vendôme sem se espantar com os enormes e lindos cartazes de propaganda, olhar as vitrines das joalherias como quem tem dinheiro para entrar e comprar.
Descer a Champs Elysées a pé. Comer um croissant na Fauchon, terminar a tarde lendo um livro – em francês – no Jardin du Luxembourg. E, ao voltar pra casa de metrô, aliviar o cansaço ouvindo alguém tocar violoncelo ali, ao seu lado.
Eu e seu pai tínhamos um combinado: eu ia apresentar Paris pra ele, ele ia me apresentar Londres. O desejo ficou na família. Eu e você vamos juntos, filho. Prometo.