quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Relativizando.

- Rosa, eu sou mais forte do que você. Eu como mais ervilha!

- Mamãe, eu sou mais melequento do que você.

E não é porque você come mais ervilha.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Trocas.


E finalmente você largou a chupeta. Mérito do Papai Noel, que trouxe muitos presentes legais, dentre eles o objeto que, de certa forma, entrou como substituto. Com ele você conversa, sai correndo pela casa. Até o leva pra cama na hora de dormir. "Eu vim em paz", é o que diz Buzz Light Year, patrulheiro espacial, sem tirar o sorriso do rosto. Buzz trouxe paz para o meu coração também, que sofreu muito essa expectativa. No final, foi menos doído do que prometia. Você já é um menino grande, filho. Eu me orgulho muito de você. E agora temos uma espécie de anjo moderno - que até asas tem - a zelar pelo nosso pequeno grande menino.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O seu olhar.


Hoje fui fazer a foto do dia para meu outro blog. E era você atrás das câmeras, filho.

O tripé armado junto ao sofá, você de cuequinha de pé sobre o sofá, olhos grudados na câmera e palavras de comando:

- Faz pose. Sorri!

E pensar que ainda outro dia o tripé ocupava o meio da sala a tirar fotos de você crescendo na minha barriga.

Hoje, enquanto eu fazia pose, via a melhor de todas as cenas. E foi natural sorrir.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um convite especial para você.

Que tem blog, tumblr, facebook, twitter.



Há 8 anos eu tenho um afilhado no Fundo Cristão para Crianças. Para ser madrinha do Fernando, tudo o que faço é contribuir com 42 reais do meu orçamento, todo mês. Sei que esse dinheiro é usado para assistir o Fernando, de quem sei o nome, fisionomia, cidade em que mora, matérias preferidas na escola, história familiar e muitos outros detalhes que me ajudam a acompanhar seu desenvolvimento. Já trocamos fotos, novidades, alegrias e tristezas e, em breve, vamos nos conhecer.

Na verdade, o que eu faço é muito pouco. O que me leva a pensar que muito mais pessoas poderiam fazer o mesmo. Então resolvi criar uma rede de blogs divulgadores da ideia do apadrinhamento. Veja um exemplo de post aqui.

Muita gente não conhece a instituição e não sabe que essa maneira de ajudar alguém realmente faz diferença. Não sabe que o Fundo é uma organização respeitada mundialmente, auditada, que presta as contas do seu trabalho e realmente traz resultados, tirando milhares de crianças da situação de pobreza no Brasil. Para conhecer melhor o trabalho do fundo, acesse www.fundocristao.org.br

Você, com a força formadora de opinião do seu blog, tumblr, twiter, orkut ou facebook, pode fazer parte da nossa rede e contribuir significativamente para espalhar esta ideia.

Tudo o que você tem a fazer é escrever para espalheessaideia@fundocristao.org.br para receber o selo da campanha e, semanalmente, os posts que vamos fazer em conjunto. Você pode adaptar cada texto e post para a sua linguagem pra ficar mais espontâneo. O importante é fazer da sua rede social um veículo de informação que faça chegar a cada vez mais pessoas a ideia simples do apadrinhamento. E o quanto ela pode fazer diferença para muitas crianças em situação de pobreza no Brasil.

O poder da internet é mobilizar muitas pessoas por uma causa maior. E o que você precisa fazer para isso acontecer também é muito pouco.

Desde já eu te agradeço, de coração.


Um beijo,


Cris Guerra.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Caixinha de surpresas.

Você brincando de futebol em casa com o Dudu.

Depois do chute:

- Gol de mim!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Mundo, Francisco. Francisco, mundo.

Sabe, filho. Eu já não gostava tanto do mundo quando você chegou. Mas a cada dia você me convida a olhá-lo de novo – sou eu quem mostra o mundo pra você. Pensando bem, ele é bonito sim. Eu é que não tinha olhado com calma. Obrigada, filho, por suas perguntas bonitas. Elas me fazem repensar e construir tudo de novo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Solução.

– Porque quando que eu ficar grande você e o meu Papai vão nascer de dentro da minha barriga.

Bem pensado, filho. Bem pensado.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sentidos.

Estranho eu me lembrar disso hoje, filho. Do dia em que olhei para o corpo do seu pai sem vida e deparei com a tatuagem no braço: "alegria". Ali, a alegria não fazia mais sentido. Então resolvi tatuar em mim. Para dar à alegria um sentido novo. E foi assim que aprendi: as pessoas vêm e vão. A alegria fica.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O seu olhar.

Faz 3 dias que você aprendeu a fotografar. Fiz um registro das primeiras imagens que você escolheu guardar:



















Hoje você até participou do Hoje Vou Assim.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Novas Francisquices.

– Não, eu não tô com prisão de vento, Mamãe!

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– A gente tem que assistir ficução. É muito bom, ficução.

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– Para com essa conversa afiada!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Francisquices.

1.

A mortadela é sua mais nova conhecida, apresentada pelo Vovô Luiz.
Ontem, depois de comer três fatias e querer outra, Vovó disse não.

– Você vai passar mal, Fran.

– Eu não vou nem avumitar!


2.

– Vovó, tênis é comida?

– Claro que não, Francisco. Por quê?

– Porque a Nina tá mordendo o meu.


3.

Há alguns meses você me mostrou um New Beetle e perguntou:

– Que carro é esse, Mamãe?

– É o New Beetle, filho. Uma releitura do Fusca.

(Você tem de onde puxar seu senso de humor.)

Desde então, ao ver um New Beetle ou um Cinquecento na rua:

– Olha, Mamãe!!! Uma releitura!!!!!


4.

Olhando sua foto de terno no dia do casamento da Laura, em que você era pajem, mas se negou a entrar na hora H:

– Vovô, você viu a foto do Francisco casado?


5.

– Mamãe, eu sei tirar foto, sabia?

– É mesmo, Francisco? – respondo sem prestar muita atenção, ocupada em redigir uma mensagem pelo celular.

– É, sei tirar fotos de pessoas.

Silêncio da mãe ocupada.

– Você não vai falar que eu sou legal?


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Curtinhas.

Com a Vovó Odette:

— Francisco, para de provocar a Nina, que ela acaba te dando uma bela mordida.

— Mordida não é bela, Vovó.


Essa madrugada, em casa:

— Quero Toddy, Mamãe.

— Não pode tomar Toddy no meio da noite, filho. Se quiser água eu te dou. Toddy, agora, não. Só de dia.

E o dia amanhece.

— Tá de dia, Mamãe!

— É mesmo, Francisco. Bom dia!

— Quero Toddy.

sábado, 7 de agosto de 2010

Simples assim.



— O dia tá lindo, Mamãe, não dorme mais não!

Foi assim que eu acordei hoje. Na sala, havia um presente já aberto. Sem cerimônia, você o pegou e me entregou. Era o presente de dia dos Pais da escolinha.

– E esse desenho lindo, filho? Quem é?

– Você e o meu papai.

Meu lado criança achou divertido ganhar presente também no dia dos Pais. Comentei:

– Eu sou sua mãe e sou seu pai, né, filho? Por isso ganhei o presente.

– Não, você não é meu Papai. Meu Papai tá lááá no céu. Ele comeu muito sal e morreu, né?

É, filho. Parece que sim.

sábado, 31 de julho de 2010

Primeiro amor.


Conversando sobre casamentos.

– Eu também vou casar.

– Vai, filho? Com quem?

– Com cê.

E um sorriso aberto pra dar o clima.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Filho de peixa.



– Põe o salto, Mamãe.

– Não acha bonito com essa sapatilha, filho?

– Deixa eu ver. Não. Põe o salto, Mamãe. Salto é bonito.

sábado, 24 de julho de 2010

Moderninho.

– A minha namorada chama Duda. Só que ela é minha amiga.

E você tem apenas 3 anos, filho. Melhor eu me preparar.


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sonora alegria.

Você cantarola enquanto brinca e anda pela casa. Coloca cores e pronomes possessivos nas músicas. Nos passeios de carro você pede musiquinha. Agora começou a cantar junto. Presenteei você com um aparelhinho de som: já acordo ouvindo um dos seus CDs tocando. Não posso aumentar o volume, que você diz "Não abaixa alto, Mamãe." Nos passeios de carro você anuncia que vai rir quando passarmos no túnel. E cumpre o que promete, com risadinhas abertas. Andamos de mãos dadas enquanto você tece comentários e pede o meu aval sobre tudo o que está à sua volta. Nos momentos de calma você me acarinha com as mãos macias e olhar apaixonado – às vezes alisa meu colo, às vezes minha barriga. Sua alegria tem som. E a minha invade todos os meus sentidos.

sábado, 3 de julho de 2010

Sinceridade.

— Meu pai comeu muito sal e morreu, Vovô. Eu quero um pai sem morrido.

domingo, 6 de junho de 2010

Para o livro de memórias.

1.

Comprei pra você de presente uma ambulância.

— Onde você comprou essa ambulância, Mamãe? Na loja de ambulâncias plásticas?


2.

Passeando de carro pela cidade, você filosofa:
"Tantos carros. Tantos caminhões. Tantos ônibus. Tantas árvores. Tantas moças."

E no meio disso tudo, o meu sorriso secreto e solto, voando leve de tão encantado.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Amanhã, espero por você em BH.


Se você perdeu o lançamento do livro em novembro de 2008. Se você tem o livro e quer um autógrafo. Se você até hoje não havia conseguido comprar o livro. Se você quer dar uma passeio gostoso no feriado. Se você quer conhecer um café novo. Se você mora perto da Página 1. Se você quer me dar um abraço. Ou só porque amanhã é sábado. Apareça. A partir das 10h30, vou estar à sua espera. Um beijo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

Mais cedo que eu esperava.

Brincando no meu quarto enquanto eu fazia preguiça na cama, você pergunta:

- Cadê o meu Papai?

Conto a história sem rodeios, diante do seu olhar não muito atento. Rapidamente você se distrai com outra coisa.

À tarde, estamos tomando um lanche no meu café predileto. Você diz, naturalmente:

- Eu fiquei muito triste que o meu Papai morreu. Fiquei muito bravo porque ele tá "morrido".

Senti o mesmo, filho. E, como você, expressei sem medir as palavras. É muito bom ver sua lucidez. Conheço gente de quase quarenta que até hoje não sabe dar nome ao que sente.

Bom começo, Francisco. Bom começo.

domingo, 18 de abril de 2010

Cicatrizes.

Você brincando com meu celular:

– Vou ligar, Mamãe. Ligar pro meu Papai.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Duas rodas.



No último domingo, fomos juntos andar na praça: eu, você e sua nova bicicleta. Nova e a primeira. Em pouco tempo, você foi pedalando até se distanciar de mim. Seguro e decidido sobre as duas rodas. Fiquei sentada assistindo você lá de longe. Meu menino crescendo. Como é possível, filho? O mundo e o tempo rodam rápido demais. E cabe tanto amor em cada segundo.

Ilustração: Anna Cunha.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ainda sobre.

Quando a morte acontece, até que a gente se acostume, ela se repete. Muitas e seguidas vezes. Ao acordar no dia seguinte, está lá a morte de novo. A cada lembrança, outra morte. E a morte de novo, de novo, de novo. E mais uma vez. Até que em nós ela morra de fato — e isso demora.

Quando você nasceu, filho, foi parecido. Só que era vida. Toda hora a vida de novo. A cada momento olhar e ver a notícia: você nasceu. Ainda hoje é assim. Vivo. Latente. Pulso.

Acho que, por ter desejado longamente a sua vinda, e por você ter vindo justo quando não pedi; até por essa lição que vem com a morte, à qual eu tinha que arranjar contraponto, tive a sorte de aprender: fazer da sua vinda uma alegria.

E fiz. E você fez. E faz. Uma alegria que não cessa. Só cresce e fica mais bonita.

terça-feira, 30 de março de 2010

Feito coelho.

Chego em casa tarde e leio um bilhete da professora no caderninho da escola: "Amanhã é dia de colocar o coelhinho na toca. Cada criança deve trazer o seu coelhinho de pelúcia." Meia-noite e você não tem um coelhinho de pelúcia. Mas tem vários bichos amontoados em cima de uma cômoda, mais por obra da mãe que ainda é afeita a coisinhas macias. Fui dormir um pouco apreensiva: de que cartola eu tiraria esse coelho? De manhã cedo, quando você acordou, corri para o seu quarto. E respirei aliviada ao ver que aquele cachorro branco e felpudo, de orelhas compridas, tem um rabo meio esquisito. Será um cachorro com rabo cortado, como os cães de algumas raças? Decidi: hoje, ele é um coelho. "Toma, filho. Leva o seu coelhinho pra colocar na toca lá da escola." Você sorriu despreocupado. Eu também. Fica entre nós, filho.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Para você, Francisco.


De um amigo que mora longe, mas está bem perto.

domingo, 14 de março de 2010

Sobre ele.


Sozinho com sua avó Odette, hoje você disse a ela: "Eu tenho um pai, Vovó. Ele chama Guilherme." Tem sim, filho. Nunca duvide disso.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Essas coisas a gente tem que registrar.

Você cantando "Meu pintinho amarelinho":

meu pintinho amarelinho
cabe aqui na minha mão
quando quer comer bichinhos
com seus pezinhos
ele bate as asas
piu piu!!!!


Gostei. Pode cantar sempre assim.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Códigos.

– Você mora no meu...
– ... coração.

– Eu moro no seu...
– ...coração!


Eu falo, você completa. E sorrimos.

– Toca aqui, Mamãe. Valeu.

E assim vamos ficando cada vez mais cúmplices.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Finalmente, filho.

O juiz expediu a averbação que reconhece o Gui como seu pai. Agora posso fazer a retificação do seu nome na certidão e incluir o do seu pai e os dos seus avós paternos. É seu presente de 3 anos, ligeiramente adiantado. Ou atrasado, dependendo do ponto de vista.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sonhos e retirantes.

Fui assistir ao filme sobre a história do Lula e, de sua vinda do sertão de Pernambuco até a trajetória como líder de sindicato, só consegui me colocar na pele da mãe dele.

Você mudou todo o foco, filho. Em tudo e a todo momento fala mais alto esse amor desmedido que muda o olhar da gente.

Enquanto assistia, não julgava o filme bom ou ruim. Vi com um coração mole de mãe, mole de grande. Um coração de quem se interessa mais pelas histórias particulares que estão por trás do que parece grande. Foi bonito descobrir que uma viuvez precoce empurrou o Lula para uma liderança de sindicato.

Com essa miopia bonita que é feita de amor, vi um Lula crescendo e se tornando outro, e outro, e outro, outro depois de outro. Pensei em quantos você já foi, em tão pouco tempo.

Pensei nesses tantos que na vida somos todos.

E no meu pensamento de mãe, que entre outros sonhos quer um mundo perfeito onde o filho esteja a salvo de tudo, sonhei com o encontro dessas pessoas que somos e fomos, com as pessoas várias que não puderam nos ver assim, melhores como somos hoje. Sonhei uma desordem generosa de tempos.

Estar com minha mãe. Não mais mãe e filha: duas mães, ou duas filhas, para quem a vida contou, em tempos diferentes, histórias parecidas. Teríamos muito o que conversar. E ela apertaria as suas bochechas. E eu veria o quanto vocês são fisicamente parecidos.

Um jantar do último que meu pai foi com aquela que sou agora. Eu perguntaria sobre o mundo. Ele comentaria a roupa de alguém. Haveria a hora do silêncio e a das piadas inteligentes. E o momento de me levantar da mesa e me sentar no colo dele, na tentativa de dizer que compreendo.

Sonhei até com o meu avô, de quem eu me escondia por trás da boneca. Mas era o meu avô jovem, amigo íntimo de JK. Eu olharia nos olhos dele, em gratidão por sua escrita. E confessaria: ainda que muito depois de sua ida, o tempo arrumou um jeito de ele ficar em mim. Ao final do encontro, eu pediria pra conhecer Juscelino — dos netos, sou a única que não o fez.

Para minha avó Juju, contaria piadas e notícias novas. Daria mais risadas e abraços, sem ansiedade para lhe mostrar nada – ela já sabia de tudo.

Nos olhos de minha avó Dorinha, que nesse encontro estariam de novo enxergando bem, olharia para dizer da minha surpresa: eu, que em nada me assemelhava a ela, vi desabar em mim destino idêntico. E trocaríamos ideias e dores, num exercício de desabafo e riso. Eu ouviria suas lições com um afeto diferente.

Sonhei também longas noites de conversas com seu pai e, claro, você pertinho de nós. Em algumas delas, você dormiria para que pudéssemos olhar longamente nos olhos um do outro, mãos dadas e música na sala. Haveria, sim, uma ou mais manhãs do dia seguinte, quem sabe um dia inteiro no parque, Tiradentes ou uma esticada até a praia. Eu ouviria suas vozes misturadas e ficaria deliciosamente confusa. Você pediria cócegas e ele faria as melhores do mundo — nunca mais você pediria as minhas. Em algum momento ele falaria de um certo orgulho de mim. De como eu mudei. Comentaria as minhas fotos de modelo, inflando o peito diante dos amigos e, sedutor, sugeriria uma foto com blusa transparente. Não posso dizer que parei nesse sonho porque ele não cessou.

E enquanto eu tentava voltar de longe, a luz se acendeu e o letreiro passou comprido, para que eu pudesse me situar. Fim do filme. Recomeço da vida possível.

Corri para casa. Em sua cama, você esperava por mim. Real, possível e melhor que qualquer sonho.